sexta-feira, abril 28, 2006

Com
a Morte
não
luto,
que é nada.
Alegoria,
apenas,
do acabar,
do nosso, pessoal,
irrecusável,
fim.
Comigo morre
a minha morte.
A morte
que fica
é
para os outros.

8/5/90

quinta-feira, abril 27, 2006

A morte
lá vem sem
remissão.
Sem parar nunca
caminha sobre nós.
Ou
talvez por nós espere
imóvel e segura,
imutável
por nós espere
no fundo
do
caminho.

8/5/90

domingo, abril 23, 2006

Alma errantíssima e calma,
hóspede só não és do corpo,
nem vagabunda podes ser.
Ele te fez e tu o fazes -
acabas tu antes dele apodrecer.

20-21/4/90

sexta-feira, abril 21, 2006

Bom fora,
ó Cristo,
que não nos vieras salvar.
Apenas
a vida
em pecado
tu vieste transformar.

[20/4/90 (?)]

segunda-feira, abril 17, 2006

Não há nenhuma mensagem,
cois'alguma a oferecer.
A cada um sua viagem
p'lo caminho que tiver.

Segui-la até terminar
ou p'lo meio desistir
não é perder nem ganhar
mas apenas adiar o que sempre há de vir.

20-4-1990

terça-feira, abril 11, 2006

A morte não termina a vida,
A vida terminou antes da morte.
Nem redenção, nem culpa, nem velada sorte,
Apenas perpétua agitação interrompida.

Continua a mudança, mantém-se a acção,
Lá em cima no mundo
E no remoto fundo
Onde trabalha a larvar putrefacção.

Nós já não o somos.
Para nós, nada. A ausência é para os outros -
- E a lembrança vaga do que fomos.

segunda-feira, abril 10, 2006

Não conheço corpo algum de cor.
Ninguém assim a mim pertence.
Que possuir é pertencer também
E derrotado o é aquele que vence.

À minha volta, tudo ao meu redor,
Que fique, só, a quietude imensa.
Que venha, que chegue, que part'alguém
E saudade apenas permaneça.

Sem desejo eu, sem meta, sem dor,
Que corra o tempo, que fuja, que passe -
Até ao final, absoluto, desenlace.

12-13/4/90

sexta-feira, abril 07, 2006

Contemplo, em silêncio, a erógena zona,
na quietude plena do corpo adormecido.
Concedo a os meus dedos que passem pela cona,
levemente, apenas, num gesto emudecido.

Da paixão eterna de há momentos,
um resto de esperma esquecido,
inferior, nos seus modos violentos,
tal paixão, ao teu sexo humedecido.

27/11/89
Nua,
branca e negra
sobre o lençol.

Branco e liso o corpo
todo
e a coisa
negra
que rasga
o contínuo
do corpo liso
para
anunciar o
sexo.

O sexo
grita
sobre
o corpo branco
e liso.

Mas
o sexo
não são
os pelos
negros
que recusam
a geometria
do triângulo:
é
o corte vertical
que
não lembra
nenhuma exactidão,

a maneira
como os seus lábios
se viraram e torceram,
mostrando e escondendo
partes interiores.

quinta-feira, abril 06, 2006

Nua,
branca e negra
sobre
a
imaterialidade luminosa
do lençol.

Branco e liso o corpo
todo
e a coisa
negra
que rasga
o contínuo abstracto
do corpo liso
e
anuncia o
sexo.

O sexo
parece gritar
negro
e animal
sobre
o alabastro
ou a luz espessa
do corpo branco
e liso,
mas
o sexo
não são
os pelos
negros
que recusam
a geometria pura
do triângulo
é
o corte vertical
que,
orgânico e elástico,
não lembra
nenhuma exactidão,

a maneira escabrosa
como os seus lábios
tolerantes
se viram,
mostrando e escondendo
partes interiores,
como um beijo
vagamente canibal
ao
sexo penetrante
que se aproxima
e
se afasta
até à
humidade viscosa
do
orgasmo.

10-11/12/89

quarta-feira, abril 05, 2006

RISCARTETODAENCHERT
EAFALADER UÍDO
FAZEROS PELOSSOAREM
MAISALTO DO QUEOSEXO
ESQUECERT OD ASAS
IMAGENS
EMQ UE PARTICIPAMOS
TEUSSEIOS EAS LINHAST
ODAS DOT EU CORPO.
OTEUCORPOCOMOCOISASÓ
QUEEUC HEIROEV EJO
EUSO
ENÃOSEIOQUÉ.

30-1-1987

terça-feira, abril 04, 2006

TANGO (II)

Sangre
os teus lábios já escorrem
e no enlaçar da tua coxa
la muerte
me chama já.

8-5-86 (30 - Julho - 85)

domingo, abril 02, 2006

TANGO

Hoje, a tua saia que roda,
a tua perna que enrola -
- mañana una traición.

Mañana una traición
que teu sorriso amoroso,
que teu lânguido abandono
anunciam já.

30 - Julho - 85
Olhar uma última vez para trás,
por entre o nevoeiro. Não sei bem para onde.
Olhar para trás, rosto frio. Olhar para trás,
com os meus passos a levarem-me para a frente.
Não sei bem para onde.